7 POEMAS PARA UM MUNDO NOVO
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A terra de Montemuro

8/3/2020

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O texto que se segue é uma carta que enviei ao Teatro de Montemuro para assinalar os 30 anos da Companhia, com a qual tenho tido o prazer e honra de colaborar em diversos contextos e circunstâncias. Achámos que era relevante para este diário de bordo, uma vez que o que conto nela se cruza com o contexto deste projecto.

Já apresentei uma série de espectáculos meus no Altitudes, já criei algumas bandas sonoras para as criações do Teatro de Montemuro, mas da última vez que aí estive, a finalizar a música do Germinação em Fevereiro de 2020, mesmo antes de estourar a pandemia, trouxe daí uma coisa que nunca antes sonhei que fosse possível. Duas árvores. Duas pequenas árvores. Na verdade, dois carvalhos. Quando contei ao Eduardo que estava a desenhar uns instrumentos musicais criados a partir de ramos e árvores, ele logo me disse "Ó amigo, tenho imensos carvalhos que tenho de cortar! Vamos lá e levas os que conseguires enfiar no teu carro." Enquanto trocávamos histórias sobre os nossos meniscos (o meu joelho esquerdo estava nesse momento a uma semana de ser operado), subimos a pé o monte até ao sítio onde ele tinha os carvalhos. Enquanto eu reclamava que devia ser eu a cortá-los, o Eduardo insistiu em descer ao terreno e cortar dois belos pequenos carvalhos. "Ó Fernando, tu está aí quietinho que tens de proteger o teu joelho!". E assim descemos monte abaixo, cada um de nós com um carvalho às costas. Em chegando ao Teatro Montemuro, muita galhofa ouvi acerca deste lisboeta que vai à serra roubar carvalhos. Atando as árvores com cuidado, enfiei-as no meu Renault Scenic. Um ramo cortado aqui, outro ali, couberam mesmo à justa.

Entretanto estreávamos o Germinação, e bem, regressava a Lisboa, operava o meu joelho, e bem; começava a pandemia, ficávamos em quarentena, eu em dupla quarentena, já que estava de canadianas. E os carvalhos à espera, no meu estúdio. À espera que o meu joelho melhorasse. À espera que eu saísse de casa. Que saíssemos todos das nossas casas. Enquanto não podíamos fazer espectáculos, eu sonhava outros projectos. E todos eles envolviam instrumentos-árvores. Entretanto saímos de casa e a primeira coisa que fiz foi esta Hárvore, metade árvore - metade harpa, que acabei de filmar num outro monte, em Vila Velha de Rodão (terra dos meus pais) nas Portas de Rodão. Será o primeiro de 7 pequenos filmes que compõem os 7 Poemas para um Mundo Novo, um projecto que nasceu da pandemia. Na verdade, um projecto que nasceu ainda em Montemuro, sem eu saber. 
Aquelas árvores foram a semente de muito do que farei nos próximos tempos. Germinações...
Essa terra é mesmo boa, Eduardo! Essa terra é mesmo fértil, companheiros!

Um grande bem haja a todos vocês por tudo que que têm plantado nestes 30 anos. Teatro, memórias, afectos, partilhas.
Que venham muitos mais! 

Até já.

Grande abraço fraterno,
Fernando Mota
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foto © fm
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